terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Antes de me entregar, Mademoiselle, àquilo que chamo prazer ou a necessidade de lhe escrever, começo por lhe suplicar que me ouça. Sinto que, para ousar declarar-lhe os meus sentimentos, tenho precisão de indulgência; se apenas tivesse de justificá-los, ela ser-me-ia inútil. Que vou eu fazer, afinal, senão mostrar-lhe o meu íntimo? E que tenho eu a dizer-lhe que os meus olhares, o meu embaraço, a minha conduta e mesmo o meu silêncio lhe não tenham dito antes de mim?Por que se havia pois de zangar por um sentimento que fez nascer? Emanado de si, é sem dúvida digno de lhe ser oferecido; se é ardente como a minha alma, é também puro como a sua. Seria um crime ter sabido apreciar a sua figura encantadora, os seus talentos sedutores, as suas graças fascinantes, essa comovente candura que acrescenta um preço inestimável a qualidades já tão preciosas?Não, sem dúvida. Mas, mesmo não se sendo culpado, pode ser se infeliz. E é a sorte que me espera, se se recusar a aceitar a minha homenagem... É a primeira que o meu coração até hoje a ofereceu. Sea não tivesse visto eu seria ainda, não feliz, mas tranqüilo. Vi-a; o repouso fugiu para longe de mim, e o meu coração está inquieto. Admira-se da minha tristeza; pergunta-me a causa. Algumas vezes julguei ver que ela a afligia. Ah! Diga uma palavra, e a minha felicidade será obra sua. Mas,antes de a pronunciar, pense que uma palavra pode ser também ocúmulo da minha tristeza. Seja pois o árbitro do meu destino. Por si vou ser eternamente feliz ou infeliz. Em que mãos mais queridas poderia eudepositar um interesse maior?Acabarei, como comecei, por implorar a sua indulgência.Pedi-lhe que me ouvisse; ousarei mais, pedir-lhe que me responda. Recusá-lo, seria deixar-me crer que ficou ofendida, e o meu coração é garantia de que em mim o respeito iguala o amor.